
Epifanias produtivas geralmente vêm das mudanças de ares - viaje,pesquise,leia,mude, que faz bem. Numa dessas conversas de domingo a noite - nesse caso, era terça - , durante a janta, põe-se em voga curiosidades juvenis e nostalgias antigas. Meu ponto não são os detalhes - por mais belos que sejam - , mas um contexto lírico - e não piegas - em que se colocavam os maiores prazeres da vida. Sexo não no sentido físico, psicológico nem químico, mas social. Às vezes, alguns se perguntam quais seriam bons tópicos a serem abordados numa poesia; imagino que esse seria um ótimo. Num mundo em que as leis eram obedecidas por respeito à família ( o que se chama hoje de boa educação ), o acesso díficil ao conforto e praticidade impediam a comunidade de cair na ostentação pífia e conformidade mórbida. Uma história que durou até metade dos anos 80, e que serviu de base para entender uma estória - tão puculiarmente antiga, que caberia naqueles romances atemporais. Como se estivessemos numa noite de carnaval numa capital brasileira, as escolas de samba se preparavam para mostrar enredos envolventes, sonoridade adequada, figurinos exuberantes (não eróticos). Só para constar, isso não é luxúria burguesa; muito diferentemente, é conservação das tradições ritualísticas e valorização das raízes culturais. E ainda: as classes socias eram ainda mais evidentes; sem serem classificadas por ordem exclusivamente econômica, descriminavam-se grupos em que interesses, valores, planos comunmente interagiam e convergiam. Voltando: a rainha do baile era pretendida por vários garotos, que disputavam sua companhia por meio da simpatia com seus pais, demonstrações cavalheirísticas, vestimentas apuradas, e outros. Isso quando a garota se apresentava a sociedade como mulher ( debutante) e , a partir dali, quando se acomodava com o bem escolhido, começava a seção calorosa. Calma lá, não vá imaginar coisas. Funcionava diferente naquela época: a honra de ser selecionado não garantia êxito amoroso. Os encontros eram raros ( por isso esperados, pensados ) e cada movimento tendencioso era maquinalmente efetuado, com precisão milimétrica de espaço, intensidade, tempo; e , o melhor de tudo, era aproveitado a musicalidade do momento, sentido a pressão arterial subir e o sistema nervoso induzir gastrite e suor, degustado da saliva pretenciosa de imaginações pelo simples olhar do joelho, pelo toque das mãos, cheiro do pescoço, ou aproximação interfacial. Depois, é obvio que iam perdurar muito mais relacionamentos duradouros, famílias estruturadas, ...