bate-boca saudável

Longe de mim criar um blog para impor opiniões, doutrinas e ideologias. É fato que quem escreve sobre assuntos polêmicos deve assumir uma posição e defendê-la arduamente, considerando as contra-argumentações recebidas como fonte de repertório e não de possíveis desavenças. Todos que se interessarem são bem-vindos

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nostalgia energizante.


Epifanias produtivas geralmente vêm das mudanças de ares - viaje,pesquise,leia,mude, que faz bem. Numa dessas conversas de domingo a noite - nesse caso, era terça - , durante a janta, põe-se em voga curiosidades juvenis e nostalgias antigas. Meu ponto não são os detalhes - por mais belos que sejam - , mas um contexto lírico - e não piegas - em que se colocavam os maiores prazeres da vida. Sexo não no sentido físico, psicológico nem químico, mas social. Às vezes, alguns se perguntam quais seriam bons tópicos a serem abordados numa poesia; imagino que esse seria um ótimo. Num mundo em que as leis eram obedecidas por respeito à família ( o que se chama hoje de boa educação ), o acesso díficil ao conforto e praticidade impediam a comunidade de cair na ostentação pífia e conformidade mórbida. Uma história que durou até metade dos anos 80, e que serviu de base para entender uma estória - tão puculiarmente antiga, que caberia naqueles romances atemporais. Como se estivessemos numa noite de carnaval numa capital brasileira, as escolas de samba se preparavam para mostrar enredos envolventes, sonoridade adequada, figurinos exuberantes (não eróticos). Só para constar, isso não é luxúria burguesa; muito diferentemente, é conservação das tradições ritualísticas e valorização das raízes culturais. E ainda: as classes socias eram ainda mais evidentes; sem serem classificadas por ordem exclusivamente econômica, descriminavam-se grupos em que interesses, valores, planos comunmente interagiam e convergiam. Voltando: a rainha do baile era pretendida por vários garotos, que disputavam sua companhia por meio da simpatia com seus pais, demonstrações cavalheirísticas, vestimentas apuradas, e outros. Isso quando a garota se apresentava a sociedade como mulher ( debutante) e , a partir dali, quando se acomodava com o bem escolhido, começava a seção calorosa. Calma lá, não vá imaginar coisas. Funcionava diferente naquela época: a honra de ser selecionado não garantia êxito amoroso. Os encontros eram raros ( por isso esperados, pensados ) e cada movimento tendencioso era maquinalmente efetuado, com precisão milimétrica de espaço, intensidade, tempo; e , o melhor de tudo, era aproveitado a musicalidade do momento, sentido a pressão arterial subir e o sistema nervoso induzir gastrite e suor, degustado da saliva pretenciosa de imaginações pelo simples olhar do joelho, pelo toque das mãos, cheiro do pescoço, ou aproximação interfacial. Depois, é obvio que iam perdurar muito mais relacionamentos duradouros, famílias estruturadas, ...

5 comentários:

  1. Agradeço o comentário ao meu blog.

    Este é também um bom espaço, continua.

    ResponderExcluir
  2. E isso é o que se chama de evolução. Lamentavel.

    ResponderExcluir
  3. Guilherme:

    Concordo com seu excelente texto: hoje não existe mais conquista, glamour, calma, respeito: hoje existe vulgaridade. Tenho saudades do tempo de namoro, noivado e respeito à família. Tenho saudades de coisas estruturadas na educação, no estudo e no levar a vida mais a sério. Tenho saudades das boas músicas, dos grandes festivais onde participávamos com entusiasmo. Tenho saudades de uma época onde se tinha mais vergonha na cara, onde poucos vícios se tinha. Não digo com isso que éramos santos, mais éramos mais normais, sem tanta agressividade. Parece que hoje ninguém ama ninguém; está valendo mais o 'vamos ver se dá'.

    Ótimo texto, vou parar por aqui...rsrs
    Bjs
    Tais luso

    ResponderExcluir
  4. Olá Guilherme!
    Belo texto. Concordo em parte. Fui jovem naquela época dos namoros e noivados e sofri na pele as exigências sociais, a ditadura da moral daqueles tempos. As lindas "demonstrações cavalheiristicas, os encontros raros, a musicalidade do momento" e outros romantismos quetais, não passavam de um verniz para encobrir outras coisas. Os jovens não tinham vez, tinham mais era que obedecer! Era assim que funcionava. É só dar uma conferida na história, nas leis civis e penais, e você vai ver quantas injustiças eram cometidas em nome daquela moral. E os "relacionamentos duradouros", o que escondiam nas entrelinhas! Moral de cuecas. Agora apesar de tudo, penso que a vida dos jovens está melhor, eles podem optar, e só isso já é de grande valia na vida. Beijo grande amigo. Estarei por aqui, gostei do blog.

    ResponderExcluir
  5. Muito mais propriedade tem você, Marli, para falar; mas essa ditadura moral de que você fala, que cometiam injustiças, por serem rígidas e dogmáticas, foi substituída por uma anomia social, anarquia familiar. Os mais experientes, que já passaram pela idade juvenil, não guiavam as atitudes e impediam desestruturações, frustrações que hoje dominam as primeiras páginas de jornais ( o caso das pulseirinhas agora mais recente, por exemplo)? Entendo que a imobilidade axiológica é obsoleta com o contexto atual, mas agora precisa-se de intervenção estatal para que os ditos moderninhos segurem sua onça interior mal domesticada - e toda sociedade precisa de ordem normativa.

    Muito obrigado pela visita; fico lisonjeado quando recebo críticas tão construtivas como essa.

    Espero que a resposta tenha utilidade e estou aberto para novos questionamentos ( ou a continuação desse mesmo).

    Pode fazer contato por aqui mesmo, ou: gui_rossini@hotmail.com, identificando que é você. Mais uma vez, obrigado.

    ResponderExcluir